O Balanço 25 dias depois - O Parto (parte I)

Quando na noite de dia 8 de Agosto, as dores se intensificaram pela madrugada de dia 9, soube que daquele dia não passava, tinha estado na MAC com a minha médica na manhã de dia 8 e segundo ela a coisa ainda não era para já, pelo que vim de lá convencida que o Baby Boy nasceria apenas no dia 12, altura em que a médica estaria novamente de banco.

Positivamente impressionada por um parto fantástico do Niquinho, tudo aquilo em que não pensava era mesmo no próprio do parto, por isso esperava "pacientemente" pelas contracções de dez em dez minutos, enquanto elas teimavam por ser irregulares entre sete em sete e dezassete em dezassete minutos.

Aguentei-me até às 4h00 para ir às urgências, afinal sem contracções regulares nem perca de líquido, não me internavam.
Até que, a bolsa começou a romper e achei por bem começar a pensar que muito provavelmente não passaria daquela madrugada.

Sai de casa com o Niquinho, tentando sem sucesso não o acordar, e deixei-o entusiasmadissimo em casa dos avós, com a "portinha" que o médico ia abrir na barriga da mãe para tirar o mano, e com um "uau eu qué vê, eu qué vê" em altos berros na entrada de casa enquanto trancava a porta.

Chego à MAC às 5h00, e directa à sala de enfermagem, com a bolsa a romper em definitivo, e com muitas, muitas contracções dolorosas, ainda ouço a bela da enfermeira dizer-me:
- Diga por favor, tem de esperar lá fora até que eu chame.
- Desculpe? Estou a perder líquido e com imensas dores.

Não dei entrada efectiva, sem antes passar por uma carrada de procedimentos burocráticos, entre os quais a assinatura de um documento que nem sou capaz de ler e que por isso tem de ser o mais-que-tudo a entrar e a assinar.

Agora a frio acho inacreditável que peçam a uma mulher fragilizada, num momento importantíssimo que assine um documento a autorizar procedimentos médicos que eventualmente possam ser necessários, mas que na altura devido às dores não estamos emocionalmente capazes de julgar ou avaliar.

"Bom, três dedos de dilatação, ainda tem tempo se quiser levar epidural"
"Sim, sim eu quero!"

No entanto, a bela da enfermeira faz-me perder imenso tempo, para trás e para a frente, ora porque não tem chinelos, ora porque falta a camisa de dormir, ora porque não sabe onde tem os clisteres, e eu a contorcer-me de dores a andar de um lado para o outro, porque a senhora enfermeira era tudo menos competente.
- Vamos, o seu marido entrará depois da anestesista lhe dar a epidural.

Sou recebida na sala de partos por um enfermeiro que felizmente me transmite segurança e calma, mas isso não invalida as dores, que apertam cada vez mais.
Peço novamente a melhor-amiga-da-grávida e afirmo com convicção que não pertenço ao grupo das loucas que querem um parto com dor.
- Não se preocupe que a anestesista vem já.

Passam mais de 40 minutos e nem anestesista nem mais-que-tudo, só via dores e mais dores e mais dores e mais dores. Sem conseguir chegar à campainha, grito pelo enfermeiro vezes sem conta, e passado uma eternidade aparece-me uma auxiliar que malcriadamente, indulgentemente e com muita má vontade, pergunta:
- Quem é que esta a chamar pelo Sr. Enfermeiro
Grito-lhe à má fila, mas à má fila mesmo:
- Sou eu! Chame-o já.

O enfermeiro confirma que já chamou a anestesista e eu reafirmo que estou com muitas, muitas dores e já agora "onde raio está o meu marido?"
Depois de um toque, ouço com a maior calma e paciência do mundo, "o marido vem já, vou pedir para o chamarem já".
- Mas e a anestesista, eu quero uma epidural por favor.

Nem cinco minutos depois e o futuro papá pela segunda vez está ao meu lado, com a minha carteira ao ombro e sempre com as mesmas palavras na boca, "pronto fofinha, estás a portar-te lindamente!".

Para tudo, portar-me bem??? Eu quero uma epidural repito pela sei quantas vezes, não quero portar-me lindamente.

Foi então que o enfermeiro me chama pelo nome e me diz com a maior calma, delicadeza e paciência do mundo "Trinca, já passámos essa fase, o seu bebé vai nascer".

Cai em mim, não havia nada a fazer, o meu bebé ia nascer e eu ia, forçosamente, pertencer ao clube das mulheres que pariam com dor, e das duas uma ou me concentrava nas indicações que me davam ou a coisa ia correr pior.

Entro efectivamente em período de expulsão e aí é que a porca torce o rabo, há quem diga que a dor é equivalente a vinte ossos do corpo a partirem-se ao mesmo tempo, eu não tenho termo de comparação porque nunca parti um osso, apenas pari um rapaz de 3.300 gr de parto normal sem epidural.

Ao que parece o parto foi muito rápido e inesperadamente abrupto, pois fiz sete dedos de dilatação em menos de duas horas. O Baby boy, nasceu portanto às 7h07, foi de facto uma hora pequenina, mas confesso que grande não aguentava.

Entretanto chega a minha médica que estava de banco, e explica que a anestesista de serviço estava com ela no bloco operatório a fazer um parto de gémeos e que portanto não tinha conseguido vir atempadamente dar-me a minha ex-melhor-amiga e ela também só naquele instante tinha visto as minhas msgs. Ainda a tempo de ajudar nos procedimentos e de me dar mais confiança e força, não só me ajudou com me proporcionou a possibilidade de ser a primeira a agarrar o meu Baby Boy, sim fui busca-lo e pu-lo em cima da minha barriga enquanto pai e enfermeiro tratavam do cordão umbilical.

(continua)

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