"Davam a mãe para serem filhos do CR7"
Texto da Jornalista Isabela Stilwell
Leem na integra!!! E reflitam.
" Sei que é politicamente incorreto dizê-lo, mas indigna-me o aparente consenso com que as pessoas acolhem o "episódio" Cristiano Ronaldo e os gémeos, aceitando alegremente a versão de que foram gerados por uma barriga paga a preço de ouro. Como se não houvesse nada de chocante em que as crianças fossem entregues como se não passassem de um qualquer gadjet, encomendado pela internet, e que se espera ansiosamente tenha a nossa cara. Como se, em sendo verdade (e elas aceitam que sim) não houvesse nada de especial em mandar fabricar crianças propositadamente órfãs de mãe, exibindo-as narcisicamente como um produto exclusivo. Nem sequer vejo estranhar uma opção destas tomada por alguém que tem na própria mãe uma heroína, indispensável em todos os momentos.
Espantam-me os milhões de gostos quando alguém declara
que aos filhos basta terem "pai e um pai inacreditável" como ele,
como se não soubéssemos todos que é exatamente quando um dos pais se acha tão
extraordinário, que a criança mais precisa do contraponto de alguém
"normal" na sua vida.
Estranho porque é que tantas pessoas se calam, nomeadamente gente
com responsabilidade na defesa dos direitos das crianças, e que sabem bem que o
direito a uma mãe ou a um pai, não é uma prorrogativa de quem a procriou, mas
da própria criança. Porque não tornam pública uma opinião fundamentada sobre o
que acontece não só neste caso mas no de tantos outros "famosos" que
repetidamente enchem as páginas dos media, uma opinião que nos ajude a
refletir?
Deixa-me perplexa porque é que os sábios não se chegam à frente
para perguntar alto se é realmente isto que queremos, um futuro onde o dinheiro
compra a técnica para tornar as crianças num produto consumível, produzido cada
vez mais "à carta"? Consubstanciando, além do mais, um negócio
de compra e venda de seres humanos.
E, já agora, porque estão silenciosos os Historiadores, que sabem
bem que embora mascarado de admirável mundo novo, o que vemos agora acontecer
é, na essência, um retrocesso civilizacional. Os homens ricos e poderosos
punham, sem pestanejar, o corpo das mulheres ao seu serviço. As
"barregãs" que viam o filho reconhecido pelo rei, eram recompensadas
"pelo uso do seu corpo" (a expressão é mesmo esta), e os infantes
criados na corte, educados com todos os privilégios que o divino sangue paterno
ditava. Soa familiar? Muito, mas convinha também recordar como os direitos das
mulheres e das crianças evoluíram desde aí, como de pouco vale pugnar por
quotas nas empresas se aceitamos fechar os olhos a coisas como estas.
E nós todos, cidadãos comuns, mas que temos voz e voto, em que é
que ficamos? Basta uma vista rápida aos comentários à notícia para perceber
que, para muitos, a fama e o dinheiro parecem compensar tudo. Se a criança
pergunta pela mãe, que importa que lhe digam que morreu ou viaja (como li nas
declarações de uma das irmãs Aveiro), se em troca pode entrar pelo campo
adentro ao lado do pai mais famoso do mundo (com todo o mérito), que diferença
faz que um dia deixe de perguntar por ela e se remeta a um silêncio deprimido,
se pode viajar, viver numa mansão de infinitos quartos, realizar todos os
desejos e herdar um dia a fortuna do craque? Decididamente, talvez tantos se
calem porque, secretamente, davam a mãe para serem filhos do Cristiano Ronaldo."
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