Confissões
Criada em família católica e colégio de freiras, a minha ida para a faculdade não envergonhou a profissão da religião, e os tantos movimentos de jovens católicos ajudaram a perpetuar as minhas presenças e ações nos eventos religiosos. Na preparação da minha primeira comunhão, a confissão não foi um processo complexo, que me exigisse muita reflexão. Os pecados de que temos consciência na infância, em geral, não passam das ações travessas de crianças — uma desobediência, uma zanga, talvez um lápis "esquecido" na mochila que não era nosso. Confessávamos com o mesmo tom com que contávamos uma história à professora: sem vergonha, sem peso, talvez até com alguma inocente vaidade por termos algo a dizer. Na altura, a confissão era mais ritual do que transformação. Era mais gesto do que consciência. Mas foi, ainda assim, a semente de algo que só mais tarde viria a compreender: a necessidade humana de nomear aquilo que nos pesa. Com o tempo, a vida foi ganhando contornos mais co...